O papel dos influenciadores digitais na política: uma nova forma de fazer campanha
Como as redes sociais transformaram a comunicação política no Brasil, colocando influenciadores no centro do debate eleitoral, entre oportunidades de engajamento e os riscos de posicionamento. Por Arthur Chaves*. O cenário eleitoral brasileiro tem se adaptado à era digital, e os influenciadores, que antes eram vistos como simples propagadores de marcas e produtos, passaram a desempenhar um papel central também no debate político. Em 2022, as Eleições Gerais do Brasil marcaram a ascensão desses criadores de conteúdo como figuras essenciais para campanhas eleitorais, influenciando diretamente o comportamento dos eleitores e o alcance das propostas dos candidatos. Os influenciadores digitais possuem uma capacidade única de engajar grandes audiências por meio de suas plataformas, seja no Instagram, YouTube ou Twitter (hoje X). Por conta de sua proximidade com os seguidores e da confiança depositada neles, acabam influenciando não apenas escolhas de consumo, mas também posicionamentos políticos e sociais. Esse cenário cria oportunidades e desafios, especialmente no que tange à responsabilidade dessas personalidades em promover um debate democrático e combater a desinformação. A presença dessas figuras nas campanhas é estratégica para os políticos que querem alcançar públicos segmentados e diversificados. Jovens, que talvez não sejam atraídos pela propaganda tradicional, por exemplo, podem se engajar mais ativamente no processo político ao verem seus influenciadores favoritos discutirem temas eleitorais. O risco de posicionamento político para os influenciadores No entanto, ao contrário do que muitos podem pensar, nem sempre o envolvimento em campanhas políticas resulta em ganhos. Alguns influenciadores enfrentam riscos ao declararem apoio a candidatos ou partidos. A cantora Luísa Sonza e o youtuber Felipe Neto são exemplos de personalidades que sofreram retaliação após declararem apoio a Luiz Inácio Lula da Silva nas Eleições de 2022. De acordo com relatos, marcas chegaram a oferecer contratos com a condição de que os criadores de conteúdo retirassem de suas redes publicações políticas, revelando o quanto o posicionamento público pode afetar parcerias comerciais. Esse comportamento intimidador, embora prejudique economicamente os influenciadores, não os impede de continuar se posicionando. No festival Lollapalooza, por exemplo, Pabllo Vittar exibiu uma bandeira com a foto de Lula, e Ana Castela, expoente do agronejo (agronegócio e sertanejo), demonstrou apoio a Jair Bolsonaro em um de seus shows. Esses gestos, amplamente vistos e compartilhados nas redes sociais, mostram que o posicionamento político de figuras públicas tem o poder de influenciar o discurso público e acirrar o debate eleitoral. A legislação e a liberdade de expressão nas redes Com a crescente participação dos influenciadores no debate político, surge a questão da regulamentação desses conteúdos. No Brasil, a liberdade de expressão é protegida pela Constituição e reforçada pela Lei das Eleições (Lei nº 9.504/1997), permitindo que artistas e criadores de conteúdo manifestem suas opiniões políticas, desde que respeitem os limites legais. O Supremo Tribunal Federal (STF) tem defendido esse direito, afirmando que tais manifestações não podem difamar candidatos ou a população. Contudo, a disseminação de opiniões políticas por influenciadores revisita o debate sobre os limites da liberdade de expressão e a necessidade de se combater a desinformação. Uma questão que preocupa tanto o público quanto os legisladores é até onde vai à responsabilidade dos influenciadores, especialmente diante do impacto que seus conteúdos podem ter em jovens e adolescentes, uma audiência particularmente suscetível a influências externas. Não somente os criadores de conteúdo, como também as plataformas de mídias sociais são responsáveis pelo conteúdo que é veiculado. As redes precisam atentar para a transparência e acessibilidade, pois essa abertura contribui para o exercício da cidadania. Isso significa que, além de moderar o conteúdo, as plataformas também devem facilitar o acesso a informações corretas e promover um espaço de debate livre, respeitando os princípios democráticos. * Grupo 7. Conteúdo experimental produzido no escopo da disciplina JOR53 – Jornalismo Especializado I.