Direita Desmistificada: além dos Rótulos e Estereótipos
Produção experimental pretende revelar os segredos do debate democrático em meio à polarização política. Por Ana Paula Lopes, Ingryd Silva e Cleber Portugal *. A polarização entre direita e esquerda, tão arraigada em nossa política atual, não é apenas uma divergência ideias abstratas, é um espelho da nossa sociedade, que reflete os valores, convicções, medos e esperanças que, grosso modo, nos separa mais do que nos une. As manchetes dos jornais e os cientistas políticos nos dizem que vivemos em uma era de extremos, onde cada lado é rapidamente rotulado. Mas, dentro dessas definições aparentemente rígidas, há uma complexidade profunda, discordâncias sutis, mas poderosas, que alimentam divisões e extremismos. E é nessa intrincada teia de crenças e ideologias que desvendaremos as raízes e ramificações de um fenômeno que molda o destino de nações inteiras. A origem histórica: A Revolução Inglesa e a construção da direita Embora o termo direita tenha surgido durante a Revolução Francesa , os alicerces dessa ideologia remontam à Revolução Inglesa de 1642. Naqueles dias, apesar do reinado de Charles I, o parlamento inglês exercia um papel crucial no controle de decisões relacionadas aos gastos públicos. Numa tentativa frustrada do monarca de subversão contra o poder do parlamento, emergiu um levante popular, culminando, posteriormente, na queda da monarquia e o início de uma breve experiência republicana. Pensadores como John Locke e Oliver Cromwell são precursores na defesa dos limites do poder estatal e na preservação dos princípios naturais como a liberdade individual e o livre mercado. Tais ideias influenciaram fortemente os movimentos que deram origem à Revolução Americana, estabelecendo um vínculo direto entre a Revolução Inglesa e a fundação da direita política moderna. O historiador doutor Alfredo de Souza destaca a importância desses movimentos para a construção desse espectro. Acompanhe no áudio a seguir: Contraste de interesses: direita versus esquerda Para o entusiasta da Revolução Francesa, Thomas Paine, a história da humanidade deveria ser totalmente reescrita. O jovem político britânico acreditava que a construção social deveria ser remodelada com base na razão, um novo planejamento filosófico, político e ideológico. Por outro prisma, segundo Alfredo de Souza, o rigoroso crítico à Revolução, o filósofo irlandês Edmund Burke, defende que o contrato social estabelecido deve ser conservado, pois reúne um conjunto de tradições forjadas por experiências bem sucedidas no passado. Ainda de acordo com o historiador, os dois pensamentos antagônicos ilustram o contraste de interesses entre os espectros. Enquanto Paine, assim como a esquerda, defende a revolução como método para promoção de mudanças, Burke, por outro lado, justifica que o progresso deve acontecer de forma moderada, considerando o conhecimento adquirido e conservando convicções consolidadas. Veja Também: A comunicação na bifurcação política entre Capitalismo e Socialism o O que é ser de direita, afinal? A direita como conhecemos hoje possui diversas subdivisões, mas existem elementos que unem a maioria dos grupos, como: defesa da ordem natural; defesa de valores tradicionais; defesa da propriedade privada; pautas morais favoráveis à família. A autonomia individual é, sem dúvidas, a premissa da direita, “essa é a oferta filosófica que vai caracterizar a direita, principalmente no que diz respeito ao mercado, economia e enriquecimento” define Souza. O historiador também destaca a preservação das “tradições e as construções sociais”, além disso, “a defesa das liberdades, seja da liberdade individual, pelo liberalismo, seja a liberdade das esferas sociais, pelo conservadorismo”. A direita e suas divisões No decorrer da história, a direita se fragmentou, pequenas divergências de ideias dividiram uns e uniram outros, formando, desta forma, grupos ideológicos dentro do mesmo espectro, confira no infográfico ao lado: A defesa da liberdade individual e a responsabilidade pessoal “[...] cada indivíduo é livre para escolher os seus rumos” diz Souza, a ênfase da filosofia direitista é, sem dúvidas, a autonomia individual. “O tempo é senhor sobre a sociedade” e a meritocracia o princípio do sucesso, para os mais conservadores, a solução para as mazelas sociais não se encontra na ampliação do Estado, mas na responsabilidade pessoal de melhorar seu modo de vida e contribuir para a melhoria da sociedade por meio da iniciativa privada. Por essa ótica, o Estado surge apenas como último recurso, intervindo quando os esforços individuais ou comunitários falham. Além dos aspectos econômicos, a direita tem como princípio a defesa dos valores morais e um profundo apreço pelas instituições tradicionais, a saber: família e religião. Nesse sentido, esses pilares centrais norteiam suas convicções individuais favorecendo uma coesão social mais estável e próspera, ou seja, a responsabilidade moral e ética individual molda o coletivo. Longe dos rótulos e estereótipos simplistas nos quais constantemente taxamos a direita, podemos concluir que, essa corrente política vai muito além dos rígidos padrões morais, seu fundamento inclui a defesa da liberdade individual, a responsabilidade pessoal e a limitação do poder governamental. Ao longo da história, esse espectro se posicionou a interferência estatal, acreditando que uma sociedade equilibrada é aquela em que os indivíduos têm autonomia para determinar seu próprio destino. Saiba mais: A nova polarização * Grupo 1. Conteúdo experimental produzido no escopo da disciplina JOR53 – Jornalismo Especializado I.