Por Fabrício Araújo
“Tempo Bom, Tempo Ruim” não é só o título deste artigo, mas também uma obra escrita pelo deputado federal do PSOL, Jean Wyllys.
Imagine um país em que uma drag queen ascende como um dos maiores produtos pop e ao mesmo tempo é um dos maiores alvos de boicote. Imagine um país em que, durante anos, o único deputado federal assumidamente gay é eleito o melhor (2012 e 2015) e ao mesmo tempo é o maior alvo político de ataques, em grande maioria ataques legitimados pela homofobia.
Se você teve dificuldade para imaginar estas situações, você precisa se situar melhor sobre o cenário político-social do Brasil. Nada é inventado, é tudo real e não ocorreu na última década. Acontece na história que construímos agora.
O livro de Jean leva este nome justamente porque são tempos loucos, em que não sabemos para onde caminhamos. Veja só, temos um deputado federal assumidamente homossexual e que luta por este grupo, e outros marginalizados, mesmo antes do ingresso na vida de parlamentar. É um contexto impossível para Brasil duas décadas atrás. Temos aqui um avanço, não?
Mas veja só, ainda precisamos explicar como quem fala com criança, o porquê é errado ir aos perfis virtuais de Jean chamá-lo de “viadinho”, por exemplo. O termo é usado, inclusive, por outros parlamentares para se dirigirem ao colega. O uso deste termo durante a votação do impeachment de Dilma Rousseff (PT) desencadeou uma cuspida de Wyllys no presidente eleito em 2018, Jair Bolsonaro (PSL). Tempos bizarros, não?
Avançamos sobre o casamento homoafetivo, não damos um passo em relação à criminalização da homofobia. A discussão sobre feminismo se expande e legalmente nada concreto sobre as discussões em torno da legalização do aborto. A mídia se esforça para ser plural, mas na real, só a favela fica sob intervenção.
É um cabo de guerra sem fim entre o avanço e o retrocesso. E a figura de Jean Wyllys é, na política, a melhor representação disso.
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