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Pandemia, ensino remoto e saúde mental: estudantes da UFRR relatam os desafios desse momento

A crise sanitária mundial provocada pelo novo coronavírus exigiu alterações nos planos de vida, além de mudanças de comportamentos e rotinas.


Foto: Laiwany Dantas


“Esses dias mesmo me deu uma crise de choro em uma aula online. Eu tinha acabado de receber a notícia da morte de um amigo”. “Tem sido um desafio, porque ver tantas coisas injustas e não poder fazer nada é muito complicado”. “Minhas emoções passam constantemente por uma montanha russa”.


Esses são os relatos, respectivamente, de Adilon Andrade, Giovanna Lima e Larissa Adairalba, estudantes da Universidade Federal de Roraima (UFRR) que vivem, hoje, os desafios da crise sanitária mundial provocada pelo novo coronavírus.


Foi no dia 11 de março de 2020, há um ano, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a Covid-19 como uma pandemia. Logo em seguida, as autoridades de saúde recomendaram o isolamento como uma das principais medidas para evitar o contágio da doença, o que exigiu alterações nos planos de vida, além de mudanças de comportamentos e rotinas.



Foto: Larissa Gonçalves em ensino remoto / Autoretrato


Para Larissa Adairalba, acadêmica do curso de arquitetura, um dos maiores desafios desse momento está relacionado à adaptação das ferramentas de acesso ao ensino remoto. “Nunca tinha tido contato com elas anteriormente. Para alguns alunos a dificuldade foi ainda maior, pela falta do acesso à internet, computadores e afins. No meu caso, o desafio tem sido manter o foco”, contou Larissa.


A acadêmica de jornalismo Giovanna Lima, por sua vez, se identificou e conseguiu se adaptar bem à nova modalidade de ensino. O maior desafio, para ela, tem sido manter a saúde mental. “Eu tenho problemas com pânico [a síndrome], e a pandemia, mais as frustrações do trabalho, intensificaram algo que estava controlado há um tempo, então tem sido complicado”, relatou Giovanna.


Além dos estudantes, os professores também têm passado por grandes desafios nesse momento. De acordo com Sandra Gomes, professora do curso de Comunicação Social da UFRR, uma grande dificuldade, a nível pessoal, tanto para ela quanto para seus colegas de profissão, tem sido a invasão de horários:


“Você passa a ter uma fronteira muito menos nítida entre a sua vida pessoal e a sua vida profissional, entre as exigências de um e de outro. É o WhatsApp que clica, você vai ver, é trabalho, é cobrança, não é lazer. E nessa experiência da Covid-19, nós passamos a ver quão necessárias e essenciais são essas fronteiras, para a nossa saúde mental, convivência, desenvolvimento e qualidade de vida como um todo”.


Sandra também comentou que os desafios lançados chegaram em um momento em que as pessoas não estavam preparadas para os novos formatos e exigências, e que a cobrança acaba sendo maior, porque é preciso ensinar e avaliar através dessa nova realidade.


“Outro aspecto que precisamos focar enquanto profissionais, instituição, cidadãos, são as deficiências tecnológicas. Então é o aluno que, primeiro, não tem uma internet de qualidade e segundo, não tem acesso a equipamentos. O celular ajuda muito, nos auxilia, mas não facilita na hora de estudar e fazer trabalhos. É preciso cobrar que isso se transforme em políticas públicas”.



SAÚDE MENTAL


Há pouco menos de uma semana, o Brasil chegou em 300 mil mortos por Covid-19. O atual momento, inevitavelmente, tem gerado sentimentos como medo, estresse, incerteza, tristeza e ansiedade. Por esta razão, ações coletivas de cuidados com a saúde mental, que em tempos normais eram uma necessidade, agora se fazem urgentes.


“Quando me sinto fraca ou triste em função da pandemia, tento me aproximar do que me faz bem. Ligo para os meus amigos, vou ver um filme, escuto uma música, medito, faço uma pausa”, respondeu Larissa, sobre como tem trabalhado a saúde mental durante a pandemia.


Giovanna contou que já tentou de tudo, como dançar, ouvir música, escrever e respirar fundo, mas encontrou ajuda no acolhimento familiar: “Sem dúvidas, o que tem me ajudado é a minha família”.


Em uma live sobre saúde mental, vida acadêmica e pandemia, realizada na última sexta-feira (26) pelo Curso de Comunicação Social (CCOS), a psicóloga e especialista em saúde mental Glenda Dinelly falou sobre a pandemia ser um dos momentos mais conturbados da sociedade em um período de cem anos.


“Todo mundo está passando por uma pandemia pela primeira vez e isso trouxe uma quebra de rotina. Quebra de rotina gera expectativa, ansiedade, a gente não sabe como vai ser. Essa incerteza aumenta o nosso nível de alerta, que é algo bem comum dentro da ansiedade. Somos seres sociais e sociáveis. Então temos ansiedade, estresse, aumento de peso”, alertou a psicóloga.


Para lidar com esse momento de crise, uma vez que o Brasil, antes mesmo da pandemia, já era considerado o país mais ansioso do mundo, Glenda ensinou a técnica “1, 2, 3, 4, 5”, para ser feita em casa com a ajuda dos cincos sentidos:


“Quando a pessoa está tendo uma crise de ansiedade, ela fica tão desesperada, que não consegue pensar em mais nada. A técnica 1, 2, 3, 4, 5 vai te ajudar a sair disso e tirar o foco daquilo que você acha que está acontecendo, que é a sensação de que algo vai acontecer, de sufocamento etc. É uma técnica para trabalhar o aqui e o agora”, explicou.



UFRR LANÇA CARTILHAS DE APOIO


No último mês, a UFRR, em parceria com a Divisão de Acompanhamento Social e Psicopedagógico – DASP – lançou duas cartilhas relacionadas à saúde mental.


Segundo a instituição, o trabalho foi realizado visando o bem-estar do público acadêmico e da população em geral neste momento de pandemia.


Entre as dicas estão estabelecer uma rotina, cuidar da alimentação, fazer atividades, permanecer em contato com as pessoas mais próximas e aprender a lidar com preocupações. As cartilhas também apresentam técnicas de meditação, autocuidado e planejamento semanal, além de informações sobre o coronavírus e onde procurar ajuda na UFRR e na rede de atendimento de saúde mental de Boa Vista – Roraima, incluindo atendimento remoto.

"A vida mudou, já não é mais a mesma. Não tem volta. E como lidar com isso de uma maneira que você consiga fazer disso uma construção e não se deixar levar pela correnteza? Um dia de cada vez, anotando os avanços. Os percalços, os tropeços, a gente conta também, mas segue em frente", finalizou Sandra Gomes.


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