Por Ana Paula Pires
Foto: Ana Paula Pires
As estudantes do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Roraima – UFRR afirmaram que o curso afetou a saúde mental e física de todas as quatro. Karina Moellmam, Alexia Oliva, Barbara Matias e Pamella Matos contaram que por causa da sobrecarga de trabalhos e provas, desenvolveram problemas de ansiedade.
“Tem gente que vem quase todos os dias para a biblioteca para estudar, não tem descanso. O nosso curso tem uma sala de estudo que fica no Centro de Ciências da Saúde - CCS, mas é muito bagunçado e com som alto, fazendo a gente perder a concentração. Eu acho que o final de semestre está horrível para todos os cursos, porque é muita sobrecarga de matéria, parece que todos os professores deixam artigos, provas e vários trabalhos para a mesma semana” desabafa a estudante do 6º semestre de Enfermagem, Karina Moellmam.
As acadêmicas falaram que por ser um curso dividido em vários módulos fica bem mais difícil. “A gente está aqui (biblioteca) porque temos prova manhã pela manhã. No nosso curso, temos prova toda terça, quarta e sexta, tirarmos o domingo e segunda-feira para estudar para a prova de terça-feira; terça-feira estudar para a prova de quarta-feira, e quarta-feira e quinta-feira estudamos para a prova de sexta-feira, então a gente realmente não vive, estamos sempre estudando, seja na biblioteca ou em casa”, explica Alexia Oliva.
De acordo com Moellmam, a maioria das meninas da mesa engordaram por volta de 20 quilos, menos Alexia que emagreceu 10 quilos. “Os problemas psicológicos começaram a aparecer e se desenvolver cada vez mais, como a gente falou é muita carga. Sempre estamos na biblioteca estudando, porque não temos tempo para respirar que já tem mais uma prova, mesmo quando tentamos nos divertir, sentimos uma culpa de “devíamos estar estudando”, então a gente não consegue se divertir, nem estudar, não consegue se desligar, acabamos ficando ansiosas e não fazendo nada” explica Pamella Matos, estudante de Enfermagem da UFRR.
Matos ainda afirma que desenvolveu ansiedade por conta de um trabalho que teve de apresentar. Segundo ela, a crise de ansiedade a fez parar no hospital, “A faculdade deixa a gente doente de tanto estudar, eles cobram demais a teoria e esquecem de ensinar a gente como viver fora desse mundo acadêmico, como aula de oratória ou essas coisas”, diz estudante.
O OUTRO LADO
De acordo com a professora-doutora de Jornalismo, Tatiane Hilgemberg, a demanda da Universidade, tanto para alunos quanto para professores, é muito grande. Segundo Hilgemberg, o trabalho de um professor deve incluir três dos quatro itens a seguir: ensino (obrigatoriamente), pesquisa, extensão e administração. Com o Programa de Pós-Graduação as demandas ficam ainda maiores.
Infográfico: Ana Paula Pires
“No meu caso, como coordenadora do PPGCOM, preciso dar aulas na Graduação e no Mestrado, atender alunos dos dois níveis, corrigir tarefas e provas, coordenar o programa, o que significa "apagar incêndios" diariamente, e ainda realizar pesquisa. Assim, parece que 24 horas não é tempo suficiente, ficamos sobrecarregados, e problemas de saúde física e mental começam a aparecer”, explica Hilgemberg.
Professora afirma que muitos alunos têm dificuldade de estabelecer uma relação empática com os professores. “Nos cobram a todo instante, como se nossa dedicação exclusiva à universidade significasse disponibilidade total e irrestrita de tempo, e se esquecem que somos seres humanos, que precisamos de pausas e tempo de descanso. A saúde mental é ainda pior, não só é invisibilizada, mas vista com escárnio por alunos e por colegas”, relata Hilgemberg.
Perguntada sobre modelo de ensino e do famoso "final de semestre" adotado pela Universidade, Hilgemberg afirma ser um sistema cruel e sugere alternativas de evitar sobrecarregar alunos e professores. “Esse sistema é cruel. Mas tudo que começa, precisa terminar, o que eu tento fazer como alternativa é diluir os trabalhos ao longo do semestre para que nem eu, nem os alunos fiquemos sobrecarregados, e mesmo quando passo trabalhos de fim de semestre informo desde o começo do período letivo as datas e conteúdo para que o próprio aluno possa se programar. Mas também acredito que não adianta pensarmos em alternativas para esse sistema, se a cultura brasileira de 'deixar tudo para a última hora' impera”, diz professora.
Segundo ela, falta um debate dentro do espaço acadêmico sobre saúde mental, para coletivamente, professores, técnicos e alunos construírem um espaço saudável, feliz, e aprender como auxiliar o outro e pedir ajuda quando necessário.
“Eu amo dar aulas e o ambiente acadêmico é o meu local de trabalho, quando as pressões e demandas ficaram muito pesadas eu pedi ajuda. Busquei um profissional, que me direcionasse e pretendo iniciar terapia. O que me causa mais mal é a forma como lido com tudo isso, quero sempre entregar tudo dentro do prazo, resolver todos os problemas (inclusive os que não são meus) e no fim das contas acabo sobrecarregada e exausta. Aprendi que está tudo bem ter dias ruins, que nem tudo vai sair do jeito que queremos ou esperamos, que não é porque sou forte que sou indestrutível, que preciso de tempo para mim, e que aprender a falar não é o primeiro passo”, diz Hilgemberg.
A conta do Instagram @seja.psicologa dá várias dicas para quem sofre de ansiedade para quem sentir curiosidade e quer saber mais.
Foto da conta de Instagram @seja.psicologia.
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