Por Luiz Valério
Roraima foi alvo na quinta-feira (29 de novembro) de mais uma mega operação da Polícia Federal, com o objetivo de desarticular um esquema de desvio de recursos públicos do sistema prisional. Denominada de Escuridão, a nona praga do Egito, a ação policial desbaratou uma quadrilha que agia por meio de uma empresa de fachada - a Qualigourmet - que resultou no desvio mais de R$ 70 milhões.
Entre os envolvidos estão um deputado estadual recém-eleito, um secretário de estado e um ex-secretário, além do filho da governadora Suely Campos (Progressistas) e servidores públicos. Todos foram presos. Os demandos começaram no âmbito da Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejuc) para onde são alocados os recursos do Departamento Penitenciário Nacional (Depen).
O esquema era operado por meio da empresas Qualigourmet e consistia no superfaturamento do preço das marmitas fornecidas ao sistema prisional de Roraima. Os fraudadores também informavam um número maior de refeições do que o realmente entregue diariamente aos presídios do estado. Assim, aumentavam seus ganhos ilegais.
Segundo informaçôes da PF, um dos laranjas usados no esquema fazia saques frequentes de até meio milhão de reais para pagar propinas e para repassar o dinheiro aos verdadeiros proprietários da Qualigourmet. Como resultado da operação, foram apreendidos carros de luxo - um Camaro, um Audi A3 e uma SW4 -, além de jóias e dinheiro em espécie. Uma verdadeira farra com o dinheiro público.
O que mais chama a atenção neste caso é que o esquema de desvio de recursos foi gestado no governo cuja mandatária é esposa de Neudo Ribeiro Campos, o ex-governador acusado de comandar o maior esquema de desvio de recursos já visto em Roraima até então: o caso gafanhotos. Há 15 anos, a Polícia Federal deflagrava a Operação Praga do Egito, desvendado um esquema de desvio de recursos da folha de pagamento do estado que drenou mais de R$ 200 milhões pelo ralo da corrupção. Estaria a corrupção impregnada no DNA dos Campos?
Ao que parece, a família Campos está predestinada a protagonizar escândalos de corrupção de grande monta, resultando em prejuízos incalculáveis para o erário público. Lembremos que o governo de Suely começou sob a égide do nepotismo, quando ela nomeou quase duas dezenas de parentes de primeiro, segundo e terceiro graus para cargos em todos os escalões do governo.
Durante todos os anos da gestão de Suely havia indícios de que algo estava fora de ordem, com pelo menos um de seus filhos envolvidos num nefasto esquema de desvio de recursos. O assunto foi tema de investigação na Assembleia Legislativa, que confirmou a suspeita de desvio de recursos do sistema prisional no ano passado. Logo, o caso chegou à Justiça Federal e posteriormente à estadual. Agora estamos assistindo à Operação Escuridão.
A corrupção tem sido um câncer a carcomer as estruturas de poder em Roraima. Falamos de um estado pequeno, com uma população de pouco mais de meio milhão de habitantes e com problemas de toda ordem para serem resolvidos. Roraima é um ente federativo que está com suas finanças aos frangalhos, em completa situação de insolvência, mas que ainda desperta a gana dos gatunos ávidos por dinheiro fácil.
Como disse o delegado Richard Murad, superintendente da Polícia Federal em Roraima, “a corrupção mata direta e indiretamente”. Ao longo dos últimos anos foram muitas as denúncias relativas à falta de qualidade das marmitas fornecidas aos internos do sistema prisional. Houve dias em que eles ficaram sem comer por falta de alimentos. Enquanto isso, meia dúzia de delinquentes de colarinho branco se refestelavam no banquete farto da corrupção à custa da miséria alheia.
A Operação Escuridão veio mostrar que a política em Roraima ainda está tomada pelas trevas da imoralidade. Muito ainda precisa ser feito para livrar este estado de uma casta política perdulária e imoral, que se encastelou no poder e não quer largá-lo por nada.
Caberá à sociedade continuar o processo de mudança iniciado no pleito deste ano, expurgando da vida pública as velhas raposas da política e substituindo as peças podres por outras novas, sem vícios. Só assim será possível tirar Roraima dessa situação de paciente terminal tanto na área da moralidade no serviço público quanto do ponto de vista financeiro.
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