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Relações familiares e conflitos políticos marcam as últimas semanas para a eleição em Boa Vista - RR

Acordos entre parlamentares, relações políticas e o uso de cargos comissionados podem favorecer o aumento do nepotismo cruzado no Estado.


Por Allyne Bentes, Laura Silvestre e Thiago Marinho*.

Convenção municipal da União Brasil no dia 3 de agosto – Foto: Divulgação.

As eleições municipais de 2024 irão ocorrer em 6 de outubro com o segundo turno previsto, caso seja necessário, para o dia 27 do mesmo mês. Não muito diferente das eleições que a antecederam, essa é marcada por nomes políticos conhecidos que já são veteranos nessa área e também pela associação entre política e família. Inicialmente tínhamos 5 candidatos à prefeitura de Boa Vista (RR), sendo eles: o atual prefeito, Arthur Henrique (MDB), Catarina Guerra (União), Lincoln Freire (PSOl) e Mauro Nakashima (PV) e Antônio Nicoletti (União).

 

A atual Deputada Estadual Catarina Guerra e o também Deputado Federal Nicoletti tiveram suas candidaturas anuladas pelo Tribunal da Justiça Eleitoral de Roraima (TRE-RR), no dia 10 de setembro, por não ser permitido ter dois candidatos do mesmo partido disputando cargos iguais. Apenas a decisão de suspender a candidatura de Catarina foi revertida pelo Ministro do TSE, Nunes Marques. Mas, os dois continuam com suas campanhas políticas até o julgamento dos recursos especiais.

"A gente já está preparando os recursos adequados no Tribunal Superior Eleitoral e confiante que o tribunal mudará, alterará essa decisão para que Catarina siga na campanha, uma campanha bonita, uma campanha que está na rua, crescendo cada vez mais, e que ela continuará nessa campanha e estará com o seu nome na urna no dia 6, para a eleição que vem aí", explica o advogado de Catarina, Adreive Ribeiro.

Antônio Nicoletti foi escolhido como candidato à prefeitura no dia 3 de agosto em uma convenção municipal da União Brasil (convocada por ele), a qual ganhou por 11 votos a 6 contra a parlamentar. Já Catarina, apoiada por Antônio Denarium, foi a escolha da executiva nacional da União Brasil, através de uma determinação realizada no dia 6 de agosto.

 

“O deputado Nicoletti vai recorrer para que os atos de campanha da Catarina sejam proibidos para cumprimento integral da decisão do TRE/RR e para que seja reconhecida a legitimidade de sua candidatura”, disse o advogado Alex Ladislau em nota enviada ao G1

 

O conflito interno no partido União se agravou quando Nicoletti teve suas relações políticas suspensas com o Governador Antônio Denarium em uma reunião no dia 18 de agosto, para decidir quem iria representar o partido nessa eleição. Segundo a Folha de Boa Vista, uma das possibilidades para concorrer a vice-prefeita era Andreia Nicoletti, irmã do deputado, e como candidata a prefeita, Catarina Guerra, a qual Nicoletti foi contra.

 

Esse rompimento acarretou em várias consequências, como a exoneração de Andreia Nicoletti do cargo de Chefe de Divisão de Prevenção e Educação no Trânsito pelo novo Presidente do Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN), Gueres Mesquita, 2 meses após ela assumir o cargo comissionado por indicação do irmão. Andreia Nicoletti é formada em Enfermagem e também é professora em uma faculdade particular de Boa Vista. Atualmente Andreia é uma dos 297 candidatos a vereador em Boa Vista, a professora está representando o partido da União Brasil.

Deputada Estadual Catarina Guerra e Deputado Federal Nicoletti – Foto: Reprodução.

“A influência dessas famílias é tão significativa que muitos observadores comparam a estrutura política de Roraima a uma espécie de feudo moderno, onde o poder é transmitido de geração em geração. A sensação é de que a política se tornou um negócio de família, onde a meritocracia é deixada de lado em favor do favorecimento pessoal, o que pode ter consequências negativas tanto para a governança quanto para a percepção pública das instituições”, constata a jornalista política sobre o nepotismo no estado.

 

No dia 19 de agosto, da mesma forma foi comunicada a exoneração de Álvaro Duarte, que já ocupava o cargo de presidente do Detran, também por indicação de Nicoletti, desde março de 2023, após o início da parceria política entre Denarium e o parlamentar. Ao assumir o cargo e exonerar Andreia e Álvaro, Gueres avisou que aconteceria o mesmo com outros funcionários como consequência pelo fim da relação.

 

Histórico das relações familiares na política de Roraima


O nepotismo é uma prática enraizada na política brasileira e Roraima não é exceção. Desde seus primórdios, o estado tem visto práticas de favoritismo, tanto de nepotismo cruzado quanto direto, que envolvem a nomeação de parentes e aliados para cargos públicos. Analisando o histórico dos governadores de Roraima, podemos observar como essas práticas moldaram a política local ao longo dos anos

 

●      Romero Jucá (PMDB) -  1989 a 1990

Jucá foi o primeiro governador do estado e seu breve mandato coincidiu com um período de transição administrativa.


●      Rubens Vilar (PMDB) - 1990 a 1991

Seu mandato foi curto e pouco impacto.


●      Ottomar Pinto (PTB) - 1991 a 1994

Durante o mandato procurou modernizar a administração, mas começou a adotar práticas que mais tarde seriam associadas ao nepotismo. Sua influência se estendeu a vários parentes, incluindo sua esposa, Marluce Pinto, e sua filha, Otília Pinto, que se tornou vereadora de Boa Vista em 1996.


●      Neudo Campos (PTB) - 1995 a 2002

Durante o governo de Campos, o nepotismo tornou-se mais evidente. Campos nomeou muitos de seus parentes para cargos importantes, incluindo sua esposa, Suely Campos, que mais tarde se tornaria governadora.


●      Flamarion Portela (PFL) - 2002 a 2004

Portela enfrentou um escândalo que envolvia abuso de poder econômico e político. As acusações de nepotismo cruzado, com parentes e amigos em cargos públicos, foram centrais para sua cassação.


●      Ottomar Pinto (PTB) - 2004 a 2007

Assumiu após a cassação de Portela e continuou a enfrentar questões de nepotismo, refletindo uma continuidade das práticas anteriores e agravando a percepção pública sobre favoritismo político.


●      José Anchieta Júnior (PSDB) - 2007 a 2014

Anchieta e seu vice, Chico Rodrigues, enfrentaram múltiplos desafios, incluindo a cassação de seus mandatos. As acusações de nepotismo e práticas questionáveis foram uma constante durante sua administração, com uma gestão que se tornou simbólica da luta contra práticas corruptas.


●      Chico Rodrigues (PSB) - abril de 2014 a dezembro de 2014

O breve período de Rodrigues como governador foi marcado por uma continuidade das tensões políticas e questionamentos sobre a utilização de cargos públicos para beneficiar familiares e aliados.


●      Suely Campos (PP) - 2015 a 2018

Campos foi afastada em 2018, e sua administração também enfrentou críticas sobre nepotismo que se iniciaram com uma semana de mandato, ela nomeou 19 parentes para cargos públicos.


●      Antônio Denarium (PP) - 2018 a 2026

Atualmente sob investigação e cassado, é o mais recente exemplo de como o nepotismo pode influenciar a política estadual.

 

Exemplificando, a aliança entre PSDB e PFL (Atual União), liderada pelo senador Romero Jucá e o ex-governador Getúlio Cruz, moldam essa dinâmica. A esposa de Jucá na época, Teresa Surita (PSDB), ex-prefeita de Boa Vista e candidata ao governo estadual em 1998, e o irmão do ex-governador, deputado federal Salomão Cruz, além de seu primo, o vereador Homero Cruz, estavam todos envolvidos na estrutura de poder da aliança.

 

Já no governo de Ottomar Pinto, no qual exercia um controle significativo, e sua influência se estendia à sua filha, Otília Pinto, vereadora de Boa Vista eleita em 1996. Ao mesmo tempo, a senadora Marluce Pinto, esposa de Ottomar, liderava o PMDB, além de ter nomeado vários parentes para secretarias e autarquias estaduais, incluindo irmãos, filhos, genros, cunhados e sobrinhos. Neudo Campos, por sua vez, liderava ao lado de sua esposa, Suely Campos, e da cunhada, a vereadora Maria Luíza Campos. Suely posteriormente foi eleita a governadora de Roraima, sendo a primeira mulher a conquistar esse título, mas em sua primeira semana de mandato, nomeou 19 familiares a cargos comissionados.

“A prática de nepotismo em Roraima não é uma novidade e remonta a um padrão de ‘capitania hereditária', onde certas famílias dominam a política local há gerações. Este padrão perpetua a concentração de poder nas mãos de poucas famílias, o que acaba limitando a renovação política e a inclusão de novos atores no cenário político do estado", explica a jornalista política e moradora de Roraima há 24 anos.

 

* Grupo 6. Conteúdo experimental produzido no escopo da disciplina

JOR53 – Jornalismo Especializado I.

 

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