Por: João Vianna
Com clima tropical e uma terra boa, Roraima é um promissor estado brasileiro para a aquicultura sustentável. A piscicultura do estado é totalmente baseada nos peixes nativos, especialmente o Tambaqui (Colossoma macropomum), com uma pequena participação de Matrinxã (Brycon cephalus) e Piau (Leporinus obtusidens), entre outras espécies de água doce, a atividade é dividida em três etapas: alevinos, engorda e reprodução.
Em 2017, o estado produziu 16 mil toneladas, de acordo com o levantamento da Associação Brasileira da Piscicultura (PEIXE BR). Com foco no sistema semi intensivo, onde o produtor interfere na forma de construir os tanques, estes são construídos em formato que facilite a despesca, o esvaziamento e o manejo em geral, os produtores têm níveis diversos de tecnificação. Clima, temperatura e chuvas bem estabelecidas, solos e relevo de fácil manipulação são as vantagens do Estado para a produção dos peixes cultivados.
Através de um projeto experimental lançado no ano 2000, verificou-se que a rentabilidade da piscicultura era maior que a da pecuária e menos agressiva em relação aos impactos ambientais, 01 hectare de terra usado para a piscicultura rende os mesmos benefícios que 100 hectares usados na pecuária. Além disto, a ração usada na engorda do peixe é fabricada com proteínas produzidas no Estado, tais como a Soja, Arroz, Algodão, Milho e etc. Ou seja, nesta área o Estado é economicamente autossuficiente. Atualmente, todos os municípios de Roraima tem atividades de piscicultura, com destaque para o Amajari que possui a maior lâmina d'água do estado, ou seja, a distância existente entre a superfície e o fundo do açude, seguido por Alto alegre, Boa Vista, Mucajaí e Cantá.
O diretor do Departamento de Produção Agropecuária (Depag) da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), Marlon Maia, explicou que a base dos lucros provenientes desta atividade depende de uma mão de obra conjunta, isso significa aproveitamento de pessoal responsáveis por outras demandas da próprio local, por exemplo, fazendas que criam gado, utilizam os mesmos funcionários para alimentar os peixes.
"Com relação a lucro, dependendo otimização da mão de obra usada, pois isso influencia no lucro das pequenas e médias pisciculturas, uma piscicultura que possui uma boa gestão de mão de obra, onde parte dessa mão de obra é aproveitada em outras atividades com a bovinocultura, a margem sobre o faturamento é de 36% a 38%", detalhou Marlon.
Cerca de 98,7% do peixe produzido no Estado é o Tambaqui, 70% da produção é consumida pelo próprio Estado e todo o excedente é destinado ao Amazonas. Em 2018, Roraima exportou para o Amazonas aproximadamente 7 mil toneladas de peixe, injetando na economia local 45 milhões de reais, em comparação a bovinocultura de corte, principal atividade da pecuária do estado, que injetou no mesmo ano um valor próximo a 31 milhões de reais.
Estado de Roraima possui cerca de 3.900 hectares de lâmina d'água, rendendo 20 mil toneladas de peixe e 38 mil toneladas de consumo de ração, valores distribuídos entre piscicultores artesanais, comunidades indígenas, pequenos, médios e grandes comerciantes de peixe.
Para a comerciante do ramo, Maria Rayna Cunha de Freitas, 58 anos, a decisão de investir na piscicultura surgiu em 2007. Ela e a família possuem uma tradicional panificadora em Boa Vista, com a renda deste negócio, ajuda do marido e os filhos, decidiram iniciar a produção do pescado na residência localizada na BR-174 na área rural P.A Nova Amazônia (Projeto de Assentamento).
"A gente já trabalha há 12 anos com a venda de peixe, moramos há 15 anos aqui, três anos nós ficamos nos estruturando, não tivemos ajuda do governo, tudo foi proveniente da nossa padaria"
Com seis tanques para a criação de peixes, Matrinxã e Piau, Rayna tira na despesca (retirada dos peixes do tanque) cerca de 3 toneladas de peixes.
São 500 em cada açude, os alevinos são comprados na piscicultura em Boa Vista, no valor de 400 reais o milheiro de Matrinxã e 250 reais o Piau. A ração usada na engorda do peixe é composta por soja e outros vegetais produzidos no próprio estado, a comercialização acontece no Caminhão do Peixe, projeto idealizado pelo Governo do Estado de Roraima destinado aos pequenos e médios piscicultores.
"Eu vendo o meu peixe para amigos próximos aqui da região e quando está na época da despesca, colocamos uma placa de venda na beira da estrada, e também usamos o Caminhão do Peixe, para solicitar o caminhão, entramos com contato com a secretaria e fazemos nosso cadastro, o gelo e o diesel sai por nossa conta, o caminhão e o motorista é por conta do governo", finalizou Rayna.
O que é o Caminhão do Peixe?
O Caminhão do Peixe é um projeto que ajuda os pequenos e médios piscicultores que encontram dificuldades na comercialização dos peixes, o piscicultor faz um cadastro na Seapa e esta disponibiliza o transporte que favorece o comerciante na época de despesca. Conforme o cronograma do Governo, o caminhão circula semanalmente nos bairros da cidade, a comercialização é de inteira responsabilidade do produtor, esse esquema se modifica na Semana Santa, onde a demanda aumenta e a secretaria fica responsável pelas vendas.