Por: Caio Guimarães
Segundo informações contidas no site da Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS, a depressão é um transtorno comum, mas sério, que interfere na vida diária, capacidade de trabalhar, dormir, estudar, comer e aproveitar a vida. É causada por uma combinação de fatores genéticos, biológicos, ambientais e psicológicos.
Em Boa Vista, segundo dados do Centro de Valorização da Vida são atendidas diariamente 25 pessoas através da central de atendimento gratuito 188 que funciona 24 horas. Mensalmente, o atendimento em Roraima chega a 780 pessoas.
A depressão é um transtorno comum em todo o mundo: estima-se que mais de 300 milhões de pessoas sofram com ele. A condição é diferente das flutuações usuais de humor e das respostas emocionais de curta duração aos desafios da vida cotidiana. Especialmente quando de longa duração e com intensidade moderada ou grave, a depressão pode se tornar uma crítica condição de saúde.
Ela pode causar à pessoa afetada um grande sofrimento e disfunção no trabalho, na escola ou no meio familiar. Na pior das hipóteses, a depressão pode levar ao suicídio. Cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano - sendo essa a segunda principal causa de morte entre pessoas com idade entre 15 e 29 anos.
A professora Elisabeth Cundiff só percebeu que estava com depressão quando foi ao médico e através das perguntas que foram feitas ele diagnosticou depressão. A conclusão veio por causa dos sintomas, dentre eles excesso de cansaço, tremor nas mãos e pernas, um medo de entrar no seu local de trabalho tanto pelo o portão principal como pelo portão dos alunos, um suor frio e um surdez parcial principalmente quando entrava em sala de aula.
Para lidar com a doença ela fez acompanhamento com psicólogo e com psiquiatra por mais ou menos 3 anos. Ela ainda continua com o psiquiatra ainda até hoje por que de vez em quando tem recaídas de pânico.
“A depressão ainda me assusta porque ainda não consegui descobrir a razão do medo e quando menos espero o pânico volta. Já cheguei a voltar para casa e perder as aulas por causa do medo”, disse Elisabeth, que ficou por 2 anos de licença médica indo e vindo até a aconselharem a entrar com o pedido de aposentadoria, porque ficava no máximo 2 semanas em sala e depois entrava de licença por conta da depressão.
Segundo Elisabeth Brito, Coordenadora do Centro de Valorização da Vida em Roraima, solidão é a principal causa para a procura de apoio emocional no Centro e com o isolamento social causado pela pandemia, essa busca se intensificou. Do mês de abril até o dia 12 de maio, o serviço recebeu mais de 60 ligações. Em Roraima o centro tem apoio da Assembleia Legislativa, por meio da Procuradoria Especial da Mulher.
A perda do contato com familiares, amigos, mudança na rotina, tem feito com que as pessoas sintam sentimentos como angustia, solidão, medo, nervosismo e ansiedade nesse período de isolamento domiciliar. O CVV atua prestando suporte emocional, na maioria das vezes por telefone.
“Olhar para o próximo sem julgamentos, saber ouvir mais do que falar, se importar com os sentimentos e problemas são algumas das ações colocadas em prática pelos voluntários do CVV”, esclareceu a coordenadora do CVV em Roraima, Elizabete Brito.
São diversos fatores que fazem as pessoas ligarem, como por exemplo, muitos idosos ligam por se sentirem sozinhos diante do isolamento domiciliar, os adolescentes ligam para contar algo que aconteceu durante o dia, que não foi possível falar para aos pais.
“Geralmente as pessoas começam falando da pandemia, mas depois começam a se soltar e conversar sobre outros assuntos, são diversos problemas e histórias, nós fazemos uma escuta simpática a essa pessoa” explicou a voluntária.
O atendimento do Centro de Valorização da Vida funciona pelo telefone 188, 24 horas e sem custo de ligação. Em Boa Vista 2 voluntários estão disponíveis para realizar o trabalho, no entanto, há voluntários do país inteiro, aptos a receberem ligações de todos os estados. O atendimento é realizado dentro de uma sala, com todo sigilo possível.
O CVV – também conhecido por Como Vai Você – é uma organização não governamental que atua em todo o país, recebendo ligações pelo número 188. O serviço também atende por e-mail e chat 24 horas com apoio emocional e prevenção ao suicídio. Qualquer pessoa que esteja passando por alguma situação e queira compartilhar, pode entrar em contato com o CVV.
“Nosso centro está disponível pra você ligar, desabafar, conversar, tudo em total sigilo, não se sinta sozinho, ligue pro CVV” disse. “As pessoas ligam pra conversar, desabafar e nós estamos ali pra escutar, sem interferir, respeitando o espaço do outro” concluiu a voluntária.
Tipos de sintomas
Um episódio depressivo pode ser categorizado como leve, moderado ou grave, a depender da intensidade dos sintomas. Um indivíduo com um episódio depressivo leve terá alguma dificuldade em continuar um trabalho simples e atividades sociais, mas sem grande prejuízo ao funcionamento global. Durante um episódio depressivo grave, é improvável que a pessoa afetada possa continuar com atividades sociais, de trabalho ou domésticas.
Uma distinção fundamental também é feita entre depressão em pessoas que têm ou não um histórico de episódios de mania. Ambos os tipos de depressão podem ser crônicos (isto é, acontecem durante um período prolongado de tempo), com recaídas, especialmente se não forem tratados.
A depressão é resultado de uma complexa interação de fatores sociais, psicológicos e biológicos. Pessoas que passaram por eventos adversos durante a vida (desemprego, luto, trauma psicológico) são mais propensas a desenvolver depressão. A depressão pode, por sua vez, levar a mais estresse e disfunção e piorar a situação de vida da pessoa afetada e o transtorno em si.
Existem tratamentos eficazes para depressão moderada e grave. Profissionais de saúde podem oferecer tratamentos psicológicos, como ativação comportamental, terapia cognitivo-comportamental e psicoterapia interpessoal ou medicamentos antidepressivos.
Covid-19 faz aumentarem casos de ansiedade e de depressão
Os problemas de saúde mental estão aumentando durante a pandemia da Covid-19 e o isolamento social forçado, segundo estudo da Universidade do Estado do Rio (Uerj). Publicado online pela The Lancet, embora ainda sem revisão, o levantamento revelou que casos de ansiedade e estresse mais do que dobraram, enquanto os de depressão tiveram aumento de 90%.
A pesquisa revela que as mulheres são mais propensas a sofrer com ansiedade e depressão durante a epidemia, em especial as que continuam trabalhando, porque se sentem ainda mais sobrecarregadas acumulando tarefas domésticas e cuidados com os filhos em casa. Outros fatores de risco são a alimentação desregrada, doenças preexistentes e a necessidade de sair de casa para trabalhar.
No caso da depressão, as principais causas são a idade avançada, o baixo nível de escolaridade e o medo de passar a infecção para pessoas mais vulneráveis.
"A presença de um idoso em casa, que são as pessoas mais vulneráveis e que têm maior porcentual de letalidade, cria um nível de estresse aumentado, pelo temor de passar o vírus", exemplifica.
Entre os dias 20 de março e 20 de abril, 1.460 pessoas de 23 estados responderam a um questionário online com mais de 200 perguntas. O trabalho é coordenado por Filgueiras com Matthew Stults-Kolehmainen, do Hospital Yale New Haven, nos EUA. Segundo Filgueiras, os resultados sugerem um agravamento preocupante da situação desde o início da epidemia.
O porcentual de pessoas que relataram sintomas de estresse agudo na primeira etapa da coleta de dados (entre 20 e 25 de março) foi de 6,9% para 9,7% na segunda rodada (de 15 a 20 de abril). Entre os casos de depressão, o salto foi de 4,2% para 8%. A crise aguda de ansiedade pulou de 8,7% para 14,9%.
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), os porcentuais médios esperados desses problemas na população são: estresse, 8,5%; ansiedade, 7,9%; depressão, 3,9%. De acordo com a pesquisa, quem recorreu à terapia online e praticou exercícios físicos apresentou índices menores de estresse e ansiedade.
Da mesma forma, aqueles que puderam continuar praticando exercícios aeróbicos tiveram melhor desempenho do que os sedentários ou e os que praticaram exercícios de força. Mas Filgueiras faz um alerta, porque a pressão social para se exercitar, por exemplo, pode acabar impondo ainda mais estresse às pessoas.
"Respeite seu estilo de vida e limites", diz.
Curiosamente, um fator que se revelou protetor é a presença de crianças. "Isso foi surpreendente, porque de certa forma esperávamos que fosse um fator estressor ter as crianças confinadas", disse. "Por outro lado, como pai de um menino de 4 anos que está tocando o terror em casa, digo que estaria mais estressado se ele estivesse na escola e eu não soubesse em que condições".
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