Por Mairon Compagnon
Foto tirada por Mairon Compagnon
As histórias em quadrinhos (HQs) são a mistura entre palavras e imagens para a construção de uma história, de maneira sequencial, sendo narrada em etapas/quadros. A primeira HQ foi criada no final do século XIX, pelo americano Richard Outcault, que publicava as histórias de The Yellow Kid em jornais, apresentando os elementos típicos de linguagem como onomatopeias e balões de fala e pensamentos.
Já no brasil, em 1939, Roberto Marinho publicava no Jornal O Globo, uma história em quadrinhos, intitulada de “Gibi”, que, na época, significava “moleque” porém, com o passar do tempo, a palavra começou a ser associada às histórias em quadrinhos nacionais e, atualmente, virou sinônimo.
Em 1940, começava a Era de Ouro dos quadrinhos nos EUA, conhecidos popularmente como comics. Heróis como Capitão Marvel, Superman e Capitão América atraiam a atenção dos leitores que começavam a se apaixonar pelas suas histórias. Mas foi em 1950 que duas empresas começaram a ganhar força, e se tornaram reconhecidas mundialmente: A Marvel comics e a DC comics; dando início, assim, à Era de Prata dos quadrinhos.
Atualmente, os leitores de historias em quadrinhos, possuem um nicho específico dentro da sociedade, os geeks. Apaixonados pela cultura pop, os geek estão ganhando mais adesão dentre as demais tribos, o que a idealização de eventos.
Durante o Aniraima, evento geek realizado em setembro desse ano, dois roraimenses, Hipacia Caroline e Rafa Porto, lançaram suas histórias em quadrinhos. Além de movimentar a economia, a iniciativa agrega no fortalecimento da cultura pop local.
A Tribo da Justiça
O quadrinista, Rafael Porto, de 24 anos, é o criador da história em quadrinhos roraimense, Tribo da Justiça. Iniciou sua carreira artística muito jovem, através de observações de desenhos que passavam na TV, despertando a curiosidade para a criação de histórias similares, até que, com o amadurecimento, buscou materiais que o ensinassem e propusessem melhoras nas técnicas de desenho.
Os Gibis iniciaram sua caminhada dentro das leituras das histórias em quadrinho, mas foi através dos mangás, como Naruto, que Rafael percebeu os detalhes por trás dos diálogos dos personagens, da quadrinização e do enredo das histórias. “Eu gosto muito de ler e colecionar histórias. Inicialmente, comecei com comics comuns, como Mickey e Turma da Mônica, e depois fui para os mangás. Naruto marcou minha infância e tem marcado a minha fase adulta. Eu acho muito interessante as mensagens e a construção do enredo de cada volume”, disse.
"Agora também nessa fase, com a ascensão de super-heróis, me veio a conhecimento a heróis como os X-men. Eu acho muito legal como eles trabalham a questão de minorias e trabalham especialmente com questões sociais. Eu gosto de um pouco de tudo, mas especialmente daquilo que prega respeito e igualdade".
Foto de arquivo pessoal
Foi em um festival literário, realizado por uma escola de rede privada, que Rafa Porto começou a desenvolver a HQ Tribo da Justiça. A fim de atingir todos os públicos, a história apresenta personagens inspirados em heróis famosos, porém, a ambientação e o enredo se baseiam na cultura regional. “A tribo da justiça é uma HQ de super-heróis que vivem aqui na nossa cidade e ela traz justamente elementos intrínsecos, de uma forma sutil, seja pelo dialeto, as vestimentas ou o próprio ambiente. Ela vem como um subterfúgio para a galera perceber que a nossa capital, a nossa cultura é sim capaz de produzir obras voltadas tanto para o entretenimento quanto para a cultura", explicou.
Mippo, uma história sobre apreciar a vida
As histórias em quadrinhos de origem japonesas são chamadas de Mangás. Embora as primeiras manifestações datem ainda do século XI, apenas em 1950 o nome mangá foi oficializado, através do autor Osamu Tezuka, com a obra Dororo.
Além dos olhos grandes e dos corpos esguios, o modo de leitura dos mangás diferem das histórias em quadrinhos ocidentais, sendo realizadas da direita para a esquerda. Porém, a artista Hipacia Caroline decidiu criar um mangá com leitura ocidental, da esquerda para a direita, a fim de facilitar a adesão e a leitura daqueles que ainda não conhecem o estilo japonês.
“Segundo a minha mãe, eu comecei a desenhar desde os meus 3 anos de idade. Um certo dia, minha tia descobriu que eu tinha esse talento e me deu um caderno de desenho e um mangá. Eu me apaixonei pelo mangá e comecei a tirar dele inspirações para escrever e desenhar minhas próprias histórias. Desde criança sonhava em viver da minha arte, e hoje, posso dizer que realizei o meu sonho”.
Foto de arquivo pessoal
A magaká lançou o seu primeiro mangá ilustrando a história de Mippo, um robozinho que acorda perdido na Neve e pede ajuda a seu amigo para encontrar sua casa. “Quando comecei a desenhar Mippo, foi durante o meu trabalho. Eu estava rabiscando o amigo dele e depois o rabisquei. Inspirei-me em algumas tragédias que estavam acontecendo, como a de brumadinho, para criar a história. E fiquei impressionada em como as pessoas gostaram da história, contando que choraram lendo e perguntando se haverá um volume dois, mas infelizmente essa é uma história fechada”, disse.
"Mippo não é uma historia sobre superação, mas sim de saber apreciar cada momento da vida".
Foto feita por Mairon Compganon
“Quando comecei a ler o mangá da Sakura e comecei a assistir o anime, eu me apaixonei pelo traço, pela história e pela personagem e fui, então, me apaixonando por quadrinhos. Lembro que quando tinha sete ou oito anos, li um mangá chamado Meru Puri de 4 volumes e quando personagem principal beija a menina eu tive um surto, comecei a pular, a gritar “finalmente, finalmente” e é isso que eu quero fazer com as pessoas que leem o meu mangá, que elas fiquem felizes pelo personagem, quero que elas se apeguem e chorem por ele”, contou.
O contexto da cultura pop roraimense
Em Roraima, tanto o consumo de histórias em quadrinhos, quanto a sua produção tem ganhado mais adeptos. As produções locais têm ganhado o comércio boavistense, alcançando crianças, jovens e adultos e se mostrando oportunidades para os quadrinistas tornarem seus trabalhos conhecidos.
Para o empresário Augusto Oliveira, dono da loja Geek Mundo Nerd, a produção de histórias em quadrinhos por roraimenses agrega no desenvolvimento da cultura local. " Eu enxergo com bons olhos a iniciativa deles. Acredito que eles tem um bom roteiro, uma boa arte e sabem construir bem o enredo da história. Isso traz visibilidade para a produção de obras de outros artistas locais. Mas eu lamento a falta de apoio a criação e de ajuda financeira. Eles poderiam até fazer algo bem melhor", explicou.
Um dos personagens da HQ Tribo da Justiça foi inspirado no empresário, e para ele é gratificante receber esse tipo de homenagem. “A Tribo da Justiça, foi uma ideia que surgiu dentro da loja, em uma conversa com o Rafa, inclusive um dos personagens, o nerdzinho, protagonista da história, foi inspirado em mim. É muito gratificante ver uma história que se iniciou de uma conversa entre a gente, virar uma HQ e eu ser um dos personagens dentro desse universo que eu gosto tanto”, contou.
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