top of page
  • Foto do escritorAmazoom

Hutukara denuncia ataque criminoso contra Yanomamis na cidade de Boa Vista – RR

“É preciso reverter o ciclo de ódio e violência contra os indígenas do país. Queremos continuar vivendo com saúde e segurança”, diz nota da HAY.

Foto: Conselho Indígena de Roraima (CIR).

Na última sexta-feira (11/11), por volta das 19 horas, indígenas Yanomami que estavam acampados na Feira do Produtor da cidade de Boa Vista – RR sofreu um violento ataque. Diversos tiros foram disparados contra o grupo – por dois homens que passaram pelo local, em uma bicicleta. No lugar do ataque, segundo o jornal Folha de Boa Vista, foram encontradas cápsulas de pistola calibre 9 milímetros.


Uma indígena Yanomami, mãe de uma bebê de poucos meses, morreu com dois tiros na cabeça. Outro indígena também foi ferido e está internado no Hospital Geral de Roraima. Em respeito à sua cultura a HAY não divulgou o nome das vítimas.


Em nota pública a Hutukara Associaçao Yanomami (HAY) aponta crime de ódio contra os indígenas Yawari. A nota da HAY, entidade dirigida por Dario Yanomami, filho do líder Davi Kopenawa, enfatiza que este se trata de “mais um crime de ódio”, cometido “a sangue frio” contra a população indígena.


“As autoridades precisam investigar com diligência os responsáveis pelos ataques e o que os motivou. A disposição em assassinar indígenas de passagem pela cidade, reunidos pacificamente em local público, configura crime de ódio e deve ser investigada como tal”.

Também em nota, a Polícia Militar informa que registrou o caso como “homicídio” no 3º Distrito Policial, para investigação posterior da Polícia Civil. Não há informações sobre os criminosos. “Depois que eles efetuaram os disparos, entraram na feira do produtor, abandonaram a bicicleta e fugiram”, diz uma testemunha.


O Conselho Indígena de Roraima (CIR) repudiou o ataque e “mais esta violência contra a população indígena que sofre e vem sofrendo com inúmeras perdas desde crianças, até mulheres e homens”. O CIR também pediu uma investigação minuciosa sobre mais este caso, “que não deverá e nem pode ficar impune. Pois, uma criança está órfã e uma família perde um de seus membros em um ato covarde e sem precedentes”.


A Deputada Federal Joenia Wapichana (Rede - RR) também se manifestou em suas redes sociais: "Diante do ataque ao grupo de indígenas Yanomami na Feira do Produtor, em Boa Vista, ocorrido ontem, quando desconhecidos atiraram contra os indígenas, deixando uma mulher morta e um ferido, solicitarei ao MJ, PF e a CDHM da Câmara, apuração e providências imediatas.


"Não podemos normalizar a violência contra os povos indígenas. Os Yanomami, constantemente, estão sendo atacados. Basta de violência e morte! - Joenia Wapichana (Deputada Federal).

Outras organizações, como do Psol – Roraima, também se manifestaram exigindo do poder público apuração daquilo que classifica como “crime de ódio contra indígenas na cidade de Boa Vista”. A nota do partido lembra que os Yanomami vêm periodicamente à capital, muitas vezes fugindo de ataques e ameaças sofridas em seus próprios territórios.


O documento do Psol diz acreditar na punição dos responsáveis e possíveis mandantes desse que é um “crime bárbaro e racista”. O partido pede, inclusive, a responsabilização dos órgãos públicos que se omitirem e não realizarem o seu trabalho.


Comunidade Xexena


O grupo de Yanomami atacado reside na região do Ajarani, no sul de Roraima. Há muitos anos, pessoas dessa região, principalmente da comunidade Xexena, localizada ao Leste da Terra Indígena Yanomami, se deslocam do território para cidades como Caracaraí, Mucajaí e Boa Vista.

Foto: Acampamento dos Yanomamis da Comunidade Xexena (Emily Costa/Amazônia Real/2020).

O motivo principal são os impactos causados pelo contato com não-índios desde 1970, durante a construção da perimetral Norte (BR-210), que avançou mais de 100 km pelas terras tradicionais dos Yanomami. Atualmente os yanomami também são impactados por causa da invasão dos garimpeiros ilegais em seu território.


Por medida de segurança, o grupo de yanomami atacado foi retirado da rua e levado para um local não identificado.


Nota da HAY


"É com tristeza que tomamos conhecimento do ataque a sangue frio contra um grupo de indígenas Yanomami que estavam acampados na Feira do Produtor, na cidade de Boa Vista. Segundo as informações divulgadas, dois sujeitos de bicicleta passaram pelo grupo, atirando contra os indígenas. Os disparos mataram uma mulher Yanomami, mãe de uma bebê, e feriram um homem Yanomami, que foi socorrido e está hospitalizado


As autoridades precisam investigar com diligência os responsáveis pelos ataques e o que os motivou. A disposição em assassinar indígenas de passagem pela cidade, reunidos pacificamente em local público, configura crime de ódio e deve ser investigado como tal.


A presença do grupo de Yanomamis que foi alvo de ataque na cidade tem sido constante motivo de queixas preconceituosas contra os mesmos, ignorando não só a situação de vulnerabilidade a que ficam sujeitos quando estão na cidade, como também alimentam a discriminação contra os indígenas em razão de suas particularidades culturais e modos de vida.


Não é admissível que a cidade, capital do estado de maior presença de indígenas em relação ao total da população, permaneça como lugar de hostilização e ataques contra indígenas que nela circulam. Ao contrário, a FUNAI e demais órgãos públicos precisam criar condições para que este e outros grupos de passagem tenham um local de referência com boas condições para recebê-los durante sua estadia na cidade enquanto encaminham questões de seu interesse.


O grupo que foi alvo de ataques é originário da região do Ajarani, região onde as comunidades Yanomami foram mais duramente atingidas pelo impacto da abertura da estrada Perimetral Norte, anterior a demarcação da Terra indígena Yanomami. O trágico contato forçado do grupo com o projeto de infraestrutura, posteriormente interrompido levou, a morte de parcela significativa da população destas comunidades e a desestruturação da comunidade e dos seus mecanismos de controle social.


Em ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Federal ficou reconhecida a responsabilidade do Estado pela situação em que estes indígenas foram deixados, e em tomar medidas de reparação para as comunidades afetadas. Dentre estas medidas está a fixação de um Posto de Saúde e de uma Base de Proteção Etnoambiental da FUNAI. Diante do ocorrido questionamos o Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami e a FUNAI sobre a regularidade do atendimento de saúde e o funcionamento da base, que deveriam garantir ao grupo indígena as condições para sua permanência na comunidade


Lembramos por fim que os indígenas são sujeitos plenos de direitos em igualdade com os demais cidadãos brasileiros, independente do grau de contato com a sociedade envolvente e da manutenção dos seus modos de vida, que são protegidos pela Constituição. Dentre eles está o direito de ir e vir e de se reunir pacificamente.


Ao invés da discriminação e hostilização contra os indígenas pela sua presença deveria-se preocupar em cuidar de escutar suas demandas e apoiá-los para que viagem em segurança a cidade e de volta à sua comunidade.


É preciso reverter o ciclo de ódio e violência contra os indígenas do país. Queremos continuar vivendo com saúde e segurança".


254 visualizações0 comentário

Comments


bottom of page