Por Fabrício Araújo
"E queimem as bruxas, deixa queimar..."
O debate em torno de posicionamentos políticos na internet, é quase sempre o mais raso possível, mesmo que qualquer informação possa ser checada em segundos. Ainda não chegamos ao ponto do real ser tão hostil quando o virtual tem sido. No mundo real as pessoas se toleram, mesmo diante de caras tortas e respostas curtas e estritamente necessárias. Já no virtual uma presença indesejada se apaga com um clique, mas não antes sem uma "boa" discussão que quase não passa do famigerado "esquerda x direita".
A polarização atinge a todos, mas qual lado está sendo mais prejudicado? O lado que sempre foi o mais frágil, o lado que abrange e defende os socialmente marginalizados. Para que entendam esta afirmação, traçarei um paralelo entre Tituba e Marielle Franco (PSOL).
Em Salém, Tituba foi a primeira a ser acusada e torturada por bruxaria. Mas quem diabos era Tituba? A escrava se quer foi relevante o suficiente para ser figura chave em um massacre ao qual tentarão lhe atribuir culpa. Sim, Tituba foi torturada até assumir ser uma bruxa e acusar outras pessoas de praticarem bruxaria e ainda assim tentarão dizer que a caça às bruxas em Salém ocorreu porque Tituba inventou tudo. A escrava só foi liberta após confessar o que queriam ouvir, só para deixar claro.
No Rio de Janeiro, em 2018, a vereadora negra, Marielle Franco (PSOL), foi executada. Uma história que parecia ser o início de uma revolução, em que as pessoas abririam os olhos e passariam a enxergar que há um grupo ameaçado e outro decidido a perseguir se tornou só mais um assassinato. Não como negar, Mariele não foi assassinada em um assalto, foi executada pr ser uma voz que causava incômodo. Mas logo, em questão de horas após o crime ser noticiado tentaram recriar a situação ligando Mariele ao tráfico. Tentaram fazer a vítima se tornar o lobo da história.
Tituba nunca mais foi vista após "confessar" ser bruxa e ter sido solta. Mariele foi silenciada e o caso até o momento não foi resolvido, volta e meia aparecem mais indícios de que foi execução, mas nenhuma solução.
Em Salém se alguém representava ameaça a um poder, era só acusar a pessoa de bruxaria, o fanatismo cego era implacável. No Brasil qualquer voz que se ergue por igualdade é ouvida como reclamação de comunista, como coisa do PT, mesmo que o partido só seja de esquerda em discurso mais com práticas distantes do que um partido socialista deva ser. Aqui no Brasil o fanatismo e falta de capacidade de interpretar tornaram a vontade de criar um mundo mais justo em um novo tipo de monstro, chamado "comunista".
"Quem ordena a execução, não acende a fogueira. Pai rogai por nós".
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