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Carne ou Grão-de-Bico? Veganismo tem se tornado mais presente na mesa da população roraimense

Por Adriele Lima e Lauany Gonçalves


Em uma época onde a carne começou a se tornar uma dúvida na mesa dos brasileiros, principalmente pelo preço, o veganismo vem crescendo em todo o país. A prática é voltada ao não consumismo de qualquer alimento e produtos de origem animal, podendo influenciar até na questão do vestuário (sem roupas de origem animal). Uma pesquisa, encomendada pelo Good Food Institute Brasil, feita pelo Ibope revelou que quase metade (47%) dos brasileiros reduziram o consumo de carne em 2020.


Mingau de aveia com passas, receita vegana feita por Tharín Gomes. (Foto: Reprodução/Instagram Só Come Folha)

Em Roraima não foi diferente, desde 2018 o estado tem ganhado mais adeptos aos hábitos veganos. Como é o caso da vegana Tharín Gomes, de 32 anos, que desde criança tinha problemas de saúde e quando adulta, após fazer exames mais aprofundados, decidiu aderir à prática.


“Depois que eu fiz um plano de saúde, comecei a ir em médicos para fazer exames e nisso descobri algumas alergias alimentares. Imediatamente eu já cortei leite, queijo e derivados da minha alimentação. Com o tempo outros alimentos [também] já me faziam mal”, disse Tharín.




Ela contou que não gostava de carne e não consumia outros alimentos para suprir as necessidades proteicas, o que gerou quadros de anemias severas. Quando procurou uma nutricionista, ela lhe passou uma dieta com carnes. Decidida a não consumir mais carnes, ela pesquisou receitas e foi moldando a alimentação.


“Essa mudança alimentar de cortar carne aconteceu no final de 2017 e eu passei alguns meses sem comer carne, mas eu continuei comendo ovo, porque para mim era algo fácil de complementar [na alimentação]. [Depois] eu passei a ficar incomodada com o cheiro do ovo, meu corpo naturalmente cortou o ovo”. completou.


Conforme a nutricionista, Flávia Fernandez, as maiores dificuldades que os veganos podem passar é a reposição de vitaminas, questão social devido a cobrança pelo consumo de carnes e o custo benefício por não ser uma dieta de valores acessíveis.


“É extremamente necessário que antes de adotar esse modelo de vida, [a pessoa] reorganize sua rotina alimentar. Ver realmente se é esse estilo de vida que quer seguir e procurar um suporte de ajuda para a transição de carnívoro/vegano”, alertou a especialista.


Com isso, não consumindo leite, carne e ovo, no caso de Tharín só faltava cortar o mel. O que, para ela, o processo de se tornar vegana foi muito fácil. Porém, o convívio social foi mais complicado, ela fez todas as mudanças sozinhas.


“Foi a maior dificuldade que eu tive, não convivia com ninguém vegetariano ou vegano, não conhecia ninguém que fazia isso. Eu não tive referências de pessoas próximas para me ajudar… E quando as pessoas ficaram sabendo que eu tinha feito essa mudança, eu comecei a sofrer na pele o preconceito direcionado aos vegetarianos e veganos”, relatou.


Veganos ricos em saúde


A nutricionista, Flávia Fernandez, também explicou que o corpo humano é adaptável e existem várias formas de suprir a falta de proteína pesada sem que a pessoa tenha prejuízos. Como também, o veganismo é um estilo de vida que ajuda a prevenir doenças.


“Esse estilo de vida adota uma dieta rica em nutrientes , o que acaba por prevenir doenças como, problemas cardíacos, melhora a função renal, regula o açúcar no sangue, diminui o risco de desenvolvimento de cânceres e também é benéfica no tratamento de artrites e artroses”, disse.


Tharín também percebeu que a prática lhe trouxe uma mudança no físico e contou que recebe até elogios por aparentar ser mais jovem do que a sua idade.


“Eu vou fazer 33 anos esse ano e muita gente fica chocada com a minha idade. Dizem que eu não pareço ter a idade que tenho, pareço ser mais nova. E isso é comprovado, inclusive, que pessoas que adotam esse tipo de alimentação mais saudável, elas conseguem fazer uma espécie de retardamento do envelhecimento”, explicou.



O incentivo através das redes


Uma das saídas que Tharín encontrou para ajudar o seu processo de mudança alimentar foi a busca e a realização de receitas veganas. Ela publica muitas delas no Instagram (@socomefolha) que, segundo ela, é a sua “forma de ativismo”, de como é viver na maneira vegana.

Renata Uchôa é ovolactovegetariana há quatro anos. (Foto: Reprodução/ Instagram Renata)

A ovolactovegetariana Renata Uchôa também é criadora de conteúdo digital sobre veganismo. Ela é ovolacto há quatro anos e, nesse mesmo período, sempre compartilha com os seus seguidores informações sobre o estilo de vida vegano, consumo de carnes e os seus malefícios.


“Eu acho que, no estado em que a gente está, numa cultura carnista, especialmente no Brasil, se a gente não toca no assunto, corremos o risco de deixar de conscientizar mais gente sobre isso. Deixar de comer carne, não é só a questão dos animais, tem a questão ambiental, tem a questão de saúde”, contou.


Renata nunca gostou de carne e o que lhe fez parar o consumo foi a morte da sua cadela de estimação.

“Se eu fiquei tão triste porque minha cachorra morreu, porque eu vou matar um boi ou uma galinha e comer?”.

Ela pretende um dia chegar ao vegetarianismo estrito e ao estilo de vida vegano.


Já Tharín Gomes é referência em Roraima e hoje tem um grupo de conversa onde ajuda pessoas que estão interessadas em mudar a alimentação. Ela também começou a fazer cursos de confeitaria e pretende trabalhar com culinária vegana.



Vegetarianismo e suas variações


Segundo a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), o vegetarianismo é a prática de não comer alimentos de origem animal e existem quatro variações. Confira mais no infográfico.




Cultura Carnista


De acordo com dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil ocupa o 5º lugar no ranking mundial dos países que mais consomem carne. Aqui no país, o consumo per capita médio é de 78 kg por ano. No entanto, o preço do produto não está sendo muito viável para o bolso dos roraimenses.


O reajuste mais recente no valor da carne ocorreu no mês de novembro de 2020, subindo 11% segundo dados da Cooperativa Agropecuária do Estado de Roraima (Coopercarne). E até o momento o produto não registrou baixa.


Conforme a Coopercarne, os reajustes nos valores da carne não se dá só pelas dificuldades dos produtores em alimentar os rebanhos, onde devido ao período chuvoso e de seca se tem uma instabilidade no crescimento do pasto, mas também no aumento da demanda e no consumo desse tipo de produto no estado. Uma vez que a pandemia contribuiu para o aumento do produto pela grande busca da população.


E com o produto não cabendo de maneira tão acessível no bolso dos roraimenses, o veganismo e os alimentos saudáveis são a saída que muitos estão encontrando.

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