Por causa da pandemia da Covid-19, as escolas e universidades precisaram de um novo modelo de aulas, o Ensino Remoto Emergencial (ERE). No final de outubro, a Universidade Federal de Roraima (UFRR) chega ao fim do semestre 2021.1, o terceiro desde o início da pandemia. Mesmo após tanto tempo, alunos de diversos cursos ainda encontram dificuldades no ensino remoto.
Laís Muniz, aluna do curso de Comunicação Social/Jornalismo da UFRR, precisou trancar duas matérias durante os três semestres do ERE. Sendo uma delas no semestre atual.
“Eu senti que eu não ia aprender nada se continuasse com a disciplina, eu não estava me dedicando o suficiente, então preferi focar nas outras disciplinas para me sair bem”, contou.
Laís ainda diz que não acha necessário concluir o curso em quatro anos, pois quer estudar para aprender o conteúdo e não apenas passar nas matérias.
Corredor do Centro de Comunicação Social, Letras e Artes da UFRR (Foto: Laís Muniz)
O Professor doutor José Tarcísio, coordenador do curso de Comunicação Social, conta que, para ele, a maior dificuldade é a falta de contato com os alunos e o fato de não ser possível oferecer recursos didáticos, como poderia ser feito no presencial. Ele acredita ser essa uma fase e compreende a necessidade do ERE como uma opção aos alunos que querem dar continuidade ao curso durante a pandemia.
O coordenador informou que no atual semestre (2021.1), houve em média cinco trancamentos de matérias (até o momento desta publicação) e que a justificativa na maioria das vezes é de que os alunos encontram dificuldades para acompanhar as aulas virtuais.
“Não vai cair o índice de rendimento no histórico dele (aluno), depois ele pode estar pagando a disciplina de novo, porque geralmente há um limite de trancamento, mas ele pode trancar sem ter esse limite contabilizado. Tem essa vantagem no ERE, que em semestres normais não existe. A única coisa ruim é que atrasa a formação do aluno, mas o aluno pode escolher”, disse.
Sala do Centro de Comunicação Social, Letras e Artes durante a pandemia (Foto: Laís Muniz)
O professor destaca que, assim como os alunos, os professores não tinham obrigação de participar do ERE, mas todos adotaram o modelo e dessa forma, todas as matérias continuam sendo ofertadas durante a pandemia, assim os alunos não são prejudicados no processo de formação.
O curso de Comunicação Social adotou o método de módulos. Na grade normal, são ofertadas seis matérias a cada seis meses. Sendo assim, o semestre foi dividido em dois módulos com três matérias cada.
Ygara Lima é estudante de medicina na UFRR, no início do ERE, ela optou por trancar a matrícula no segundo ano de curso. Método, pandemia e saúde mental foram alguns dos motivos.
“Particularmente, não acredito em medicina a distância, mesmo que a modalidade de ensino da UFRR seja mais flexível, o PBL. É um curso que oferece matérias práticas desde o primeiro semestre e que são necessárias para a formação médica. Além disso, não estava bem psicologicamente na época para conseguir fazer o ERE”, contou.
A acadêmica conta que a maioria das atividades precisam ser feitas presencialmente, nas dependências da UFRR, postos de saúde, hospitais e laboratórios. A estudante relatou que o ensino a distância traz prejuízos na formação, uma vez que a ausência de práticas concomitantes com as aulas teóricas.
Centro de Ciências da Saúde (Foto: UFRR)
Ygara retornou ao curso no atual semestre (2021.1) e ressaltou que a maioria dos professores têm sido mais flexíveis durante o período do ERE, estendendo prazos, horários de prova e levando em consideração a instabilidade de internet e energia.
No curso de Zootecnia da UFRR, algumas matérias práticas já estão acontecendo de forma presencial. O aluno do 6° semestre, Matheus Oliveira, conta que estava com saudades das aulas no campus. Para ele, o ensino a distância não é tão proveitoso, já que não consegue se concentrar nas aulas online. O aluno contou que chegou a trancar uma matéria no semestre anterior, mas nesse conseguiu manter as que solicitou.
As aulas presenciais de Tecnologia de Produtos de Origem Animal (TPOA), no laboratório do Centro de Ciências Agrárias (CCA) já retornaram. Os alunos aprenderam a fazer alimentos de origem animal como kibe, hambúrguer, queijos, entre outros. Ao todo, duas aulas práticas já foram realizadas.
Aulas práticas no curso de Zootecnia (Foto: Arquivo Pessoal)
Matheus explica que o uso constante da máscara já era comum entre os alunos nas aulas em laboratório. Na aula de anatomia, por exemplo, o uso do equipamento já era obrigatório, pois alguns produtos podiam irritar a pele ou o olfato, também sendo necessário o uso de luvas. “Nosso curso pede muita prática, só na teoria você não consegue se sair bem. Eu não aprendo tanto só com a teoria, aprendo mais na prática. Gostava muito da aula de anatomia presencial, pois uma aula era teórica e na aula seguinte, íamos para o laboratório aplicar o que tínhamos estudado” opinou.
Em pesquisa realizada através de enquetes no Instagram, foi constatado que 76% dos alunos que participaram da enquete permanecem cursando mesmo durante o ERE.
Já em disciplinas, os números foram mais parelhos. 51,4% permanecem cursando todas as matérias ofertadas desde o início da pandemia.
Enquete realizada em 11/10/2021 (Foto: Arquivo Pessoal)
Já os que trancaram, pelo menos 40% dos 15 alunos participantes, adiaram pelo menos 1 matéria.
*Por Ágata Macedo e Álvaro Joséh.
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