Produção experimental pretende revelar os segredos do debate democrático em meio à polarização política.
Por Ana Paula Lopes, Ingryd Silva e Cleber Portugal *.
Desde o princípio do pensamento político moderno, duas forças opostas emergem e forjam o destino de nações: o Capitalismo e o Socialismo. Essa dualidade, que se entrelaça ao longo da história, tem na imprensa um reflexo das tensões. Nessa perspectiva, a mídia se torna o fio condutor que amplifica narrativas e perpetua convicções. Traçar a linha do tempo e revisitar antigos debates nos ajudará a construir o cenário simbólico no qual a polarização política se desenhou ao longo da história.
Porém, antes de mergulharmos mais profundamente na história, a cientista política e professora Dra. Geyza Pimentel define o que é o Capitalismo e o Socialismo. Confira no áudio a seguir:
Linha do Tempo...
Revolução Francesa - Como tudo começou?!
1848 - O Manifesto Comunista e a Industrialização
O século XIX foi o palco do florescimento das ideias socialistas em meio a ascensão industrial. Publicado em 1848, o Manifesto Comunista de Marx e Engels, consolidou a luta de classes, propondo uma alternativa ao capitalismo que se fortalecia em toda a Europa.
A imprensa, já cristalizada como quarto poder, tinha agora um papel mais ambíguo. Enquanto jornais conservadores defendiam o status quo, folhetos da classe operária e publicações clandestinas espalhavam as ideias socialistas por entre fábricas e subúrbios. A informação, antes restrita à elite, começava a circular entre as grandes massas. É o que nos explica o professor de Comunicação Social doutor Luís Munaro, ouça a seguir:
1917 - Revolução Russa
Em 1917, no apogeu da Revolução Russa, o socialismo passou de uma ideia abstrata para a realidade política em um dos maiores impérios da humanidade daqueles dias. O choque entre as forças capitalistas ocidentais e o emergente socialismo soviético dava contornos globais à luta ideológica.
A imprensa, nesse contexto, tornou-se altamente instrumentalizada. As propagandas soviéticas, sob a regência de figuras como Lênin e Stálin, manipulavam a mídia para disseminar a doutrina marxista e solidificar o poder. Do outro lado, os veículos ocidentais reforçavam o discurso do perigo vermelho, posicionando o socialismo como ameaça à liberdade econômica.
1947- 1991 - A Guerra Fria (1947-1991)
Após a Revolução Russa, instaurou-se o maior embate ideológico da história: Capitalismo versus Socialismo ou Estados Unidos versus União Soviética. A mídia tornou-se a arenas desse duelo. De acordo com a dra. Geysa, enquanto nos EUA, a imprensa desenhava o socialismo como uma força infesta que devia ser contida, a URSS controlava rigidamente a circulação de informação, criando uma narrativa homogênea do progresso socialista.
O advento da televisão amplificou o alcance dessa disputa, com eventos como os debates entre Nixon e Khrushchev na Cozinha da Guerra Fria e as reportagens sobre a corrida espacial. A imprensa deixou de ser apenas palavras nos jornais e voz nas rádios e transformou-se em imagens e símbolo, uma guerra de narrativas midiáticas onde o coração e a mente da sociedade estava em jogo.
1989 - Neoliberalismo e Queda do Muro de Berlim
A morte da Guerra Fria trouxe a queda do regime socialista em várias nações e definiu o neoliberalismo como a corrente dominante. O Muro de Berlim, símbolo da divisão ideológica entre Capitalismo e Socialismo, caiu em 1989, representando o triunfo do Capitalismo, aos olhos do Ocidente.
A mídia, especialmente nos próximos anos, celebra o fim do socialismo reforçando o discurso da globalização neoliberal como o percurso inevitável para o progresso. Entretanto, na década de 90, a comunicação digital começava a mostrar sinais de que a hegemonia capitalista enfrentaria novos desafios.
E no Brasil...
A professora Dra. Geyza Pimentel nos ajuda a entender melhor tais questões no Brasil. Confira no áudio a seguir:
Século XXI - Polarização digital e a guerra das narrativas
No presente século, as fronteiras entre os dois espectros tornaram-se mais flexíveis, porém a polarização política se acirrou. Com o domínio das redes sociais e das mídias digitais, a comunicação tornou-se descentralizada. A era dos grandes veículos de mídia cedeu espaço à era dos influenciadores e dos algoritmos.
A nova direita conquistou força com representantes populares, enquanto isso, a esquerda clássica ganhou novas vertentes como o progressismo, o socialismo democrático e a cultura Woke. A comunicação digital tornou-se o campo da disputa do poder. Manipulação de dados, notícias falsas e a construção de bolhas ideológicas criaram um novo território, onde a relativização da verdade atinge novos significados.
Alexandro Medeiros na obra Ciberdemocracia: Sabedoria política, defende a ideia de que o espaço digital tem o potencial de ampliar a participação democrática tornando o debate público mais plural. Contudo, esse novo cenário é acompanhado de grandes desafios. Para o autor, a internet fragmentou a hegemonia do discurso presente na mídia tradicional, permitindo que grupos ideológicos criem suas próprias narrativas, por outro lado, o algoritmo dissemina os conteúdos de acordo com os interesses, as bolhas ideológicas, reforçando a disputa pelo controle da opinião.
O percurso histórico da polarização política está inexoravelmente ligado à história da comunicação. Seja nos textos inflamados dos folhetos revolucionários na Revolução Francesa, no duelo de propagandas durante a Guerra Fria ou nos tweets fervorosos do século XXI. A maneira como a informação é propagada, e mesmo mediada, molda a percepção da realidade política.
* Grupo 1. Conteúdo experimental produzido no escopo da disciplina
JOR53 – Jornalismo Especializado I.
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