Na cerimônia da abertura do evento de comemoração, os autuais coordenadores da entidade ressaltaram a importância do CIR na frente de lutas dos Povos Indígenas na Amazônia.
Confira na íntegra o depoimento das lideranças indígenas:
Valério Eurico da Silva – Coordenador Regional do Centro Indígena de Formação e Cultura Raposa Serra do Sol (CIFCRSS).
Muito bom dia lideranças, bem-vindos aqui no Centro Regional do Lago Caracaranã! Aqui é o nosso Centro, o nosso patrimônio, aqui da Raposa Serra do Sol! Eu como coordenador destaco que temos que cuidar do nosso patrimônio. Obrigado por vocês ter vindo até aqui, podem ficar à vontade aqui na nossa casa indígena!
Eu sou Valério Eurico da Silva, moro na Comunidade Raposa 2, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Só que estou na coordenação do nosso Centro Regional. Nosso Lago é muito bonito, a gente fica encantado!
Mas temos regras. É muito perigoso! Então a gente precisa respeitar, para o Lago não se zangar e ficar melhor para nós. Todos juntos durante esses cinco dias!
Agradeço muito os que se chegaram. Fazer, organizar, esperar não é fácil! Também como Coordenador são duas semanas direto aqui organizando. Mas, a gente não fica triste não. Fica muito alegre com vinda de vocês hoje!
Já fizemos a comemoração na nossa comunidade. Nós comemoramos também. E agora na Coordenação Regional, como coordenador, eu sou muito grato por participar dos 50 anos do CIR. Pelos coordenadores que passaram, pelos coordenadores que estão aí. Pelo companheiro Jaci. Comecei na Coordenação do Jaci, participei com Cinter. Tenho história desde os anos 2000. Tenho algumas histórias para contar.
Maria Betânia de Jesus - Secretária Geral do Movimento das Mulheres Indígenas no CIR.
Bom dia lideranças, parceiros e amigos da nossa causa indígena e do Movimento Indígena do estado de Roraima! Quero agradecer a Deus por termos conseguido, né lideranças?! Conseguido sobreviver! Foram quatro anos de muita resistência, de muita luta! Conseguimos enfrentar o leão! E vocês sabem de quem estou dizendo!
Mas, quero aqui também agradecer imensamente, eu não poderia jamais deixar de falar, da equipe que esteve aqui presente nesse espaço. Organizando! Para decorar esse espaço, para receber vocês lideranças. Sintam-se em casa! Esse espaço foi decorado para vocês! Em especial para vocês nossos coordenadores. Nossos Coordenadores Estaduais, que passaram ali, na nossa organização do Conselho Indígena de Roraima nesses 50 anos.
Porque 50 anos, meio século, não são 50 dias, nem 50 horas! É meio século de muita união, de muita luta, resistência e conquista. Por isso lideranças estamos celebrando 50 anos de existência, resistência, resiliência e de muita conquista.
Claro que eu não posso esquecer jamais de toda a nossa caminhada de toda a nossa trajetória como Movimento Indígena. De nossos parceiros que estão presentes. Muito obrigada por vocês chegarem até aqui também! Porque vocês fazem parte dessa história, juntamente com as nossas lideranças, com as organizações indígenas de outros estados e do estado de Roraima. Eu peço uma salva de palmas bem forte para todos vocês.
Esse momento é único, é histórico, é especial, é importante. No dia que eu cheguei aqui e até hoje estive conversando com a juventude, que está aqui presente com muita força. Com muita vontade de organizar esse espaço! Com muito amor, com muito carinho! E em nome da nossa organização, em nome da Coordenação Executiva eu peço a cada um de vocês: cuidem desse ambiente, nesse momento histórico que estamos presenciando aqui!
Vamos cuidar da nossa Mãe Terra, da nossa natureza, do nosso Lago Sagrado! Vamos cuidar e pedir bençãos, pedir permissão, como diz nossa Pajé Mariana. Não duvidem! Vamos cuidar do nosso lado sagrado, porque ele é especial para nós!
Enock Taurepang - Vicecoordenador geral do CIR.
Começo dizendo bom dia e agradecendo a presença de cada um! Na verdade, é importante dizer que o CIR já tem 52 anos de existência. A gente tem como ano base, do Movimento, o ano da primeira Assembleia dos Tuxauas em 1971. Esse é o ano base do nosso Movimento, o ano da nossa primeira Assembleia.
Então assim, a gente fala de 50 anos por um motivo de celebração! Tem que dizer, se não a gente vai fazer o parente errar lá da prova da universidade! Estamos falando aqui em 50 anos, mas na verdade é 52 anos! Os 50 anos marcam esse momento, esse marco histórico de meio século! Então é isso!
É uma mistura, um misto de sentimentos: de alegria. Mas, uma alegria que também é contida. Porque, muitos que a gente gostaria que estivessem aqui, não estão! Eu mesmo só tenho parte da minha família aqui hoje! Meu pai, que também foi uma inspiração para mim, não está aqui por conta da Covid!
Em todo o caso, quando eu entrei no Movimento, minha mãe chegou lá e disse: toma aqui o meu filho! Para você ensinar ele! Para puxar a orelha dele quando for necessário. Eu acho que até hoje eu nunca fiz vergonha! Porque quando a minha mãe me entregou ali, para o Movimento, eu sabia que não podia cair! Eu sabia que em alguns momentos, se eu tivesse vontade de chorar, eu não poderia chorar! Em alguns momentos em que eu tivesse vontade de baixar a cabeça, eu não podia baixar!
Então o trabalho é esse! O CIR é uma organização de comunidade, de base! Na qual nós temos orgulho de dizer: eu sou o CIR! Eu pertenço ao CIR! Eu sou comunidade! Eu sou Taurepang! Eu sou Macuxi! Eu sou Wapichana! Eu sou rezador! Eu sou pagé! Eu protejo os meus! Eu ensino aos meus! Eu sou professor! Eu sou agente de saúde! Eu sou Gpvit! Eu sou comunicador! Eu sou e nós somos! Se eu sou advogado, se eu fui deputado federal, e eu serei presidente da Funai... Esse é o CIR! Esse somos nós!
Agradeço a todos pela caminhada, pelos conselhos, pelas brincadeiras! Por vocês nunca ter largado a minha mão, quando eu precisei! Eu sou vocês e vocês são eu! E nós somos o CIR!
Então, na sua frente, é muita história! É muita coisa que a gente vai conversar, que a gente vai dialogar. A gente preparou, a gente tentou fazer um Barracão de 50 anos e a gente fez! Mas, nem tudo depende de nós! Depende da união de todos! Chegamos nos 50 anos e o que a gente vai querer para os próximos 50? Começa a reflexão!
O que estamos vivendo é um momento de Alegria, com Joenia assumindo a Funai, Marizete com o nome indicado para assumir a Funai Regional e outro parente indicado para assumir o DSEI Leste. Mas, parentes, nós temos que tomar muito cuidado com as conquistas! Porque, muitas das vezes, a nova geração que está vindo, ela pode achar que tudo é facilidade, que tudo vem de mão beijada! Então vamos refletir sobre e vamos criar forças para que na facilidade a gente se torne ainda mais forte!
Então é sobre isso que a gente vai refletir também! Nesses dias, a gente não quer um plano do governo: a gente quer o plano do Movimento Indígena!
Meu muito obrigado e que papai do céu venha nos abençoar. Venha fazer com que esse espaço, com que esses dias de vivência, sejam os melhores possíveis. Os nossos convidados, os nossos parentes de outros estados, vocês podem ir às cozinhas das regiões. Lá tem Damorida! Lá tem a nossa comida tradicional, porque a gente veio aqui também para reviver, para vivenciar e para celebrara nossa força enquanto Movimento Indígena.
Edinho Batista de Souza – Coordenador Geral do CIR
Então pessoal, bom dia! Bom diaaaaa! Bom, eu queria que vocês se levantassem, com muito respeito. Eu queria iniciar minha fala pedindo perdão e pedindo desculpa pelas muitas lideranças que hoje não se encontram mais aqui. Aos coordenadores e especialmente ao povo e Yanomami que hoje, a cada dia morrem de três a quatro crianças! Eu gostaria de começar essa festa aqui deixando essa reflexão, à cada um dos senhores e senhoras.
Na minha fala eu quero agradecer: primeiro a Deus pela oportunidade de poder conduzir essa grande responsabilidade hoje, aqui na gestão da nossa Organização – o Conselho Indígena de Roraima. Quero registrar e agradecer as etnoregiões: a região Surumu; a região das Serras; a região da Serra da Lua; a região Amajari; a região Alto Cauamé; a região do Murupu; a região do Wai Wai; região Tabaio; a região Yanomami; região do Baixo Cotingo; e a região da Raposa. Uma salva de palmas para todos nós e para vocês indígenas!
Aos parceiros, às mulheres, à juventude; às lideranças e a todos e a todas que estão presentes. Uma salva de palmas para todos nós! Aos coordenadores e coordenadoras; ex-coordenadores e ex-coordenadoras estaduais da nossa Organização. Uma salva de palmas para os senhores! Aos coordenadores e coordenadoras regionais, de todas as regiões, uma salva de palmas para os senhores e senhoras. Sejam muito bem-vindos aqui na região da Raposa, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, no estado de Roraima!
Muito obrigado senhor Valério por cuidar dessa casa! Dessa Terra Sagrada! Uma Terra abençoada e um lugar para celebrar mais uma conquista histórica do Movimento Indígena. Não só daqui de Roraima, mas de todo o Brasil!
Nós estamos falando de uma luta de resistência, de persistência e de resiliência indígena que não é só de 50 anos, nem 52 anos. São 523 anos de resistência dos povos indígenas! Então parabéns aos povos indígenas e uma salva de palma forte, porque nós merecemos!
Nós estamos nessa casa, com muita alegria e com muita emoção, para compartilhar tudo aquilo que nós temos hoje na nossa mão. Há 50 anos atrás a gente não entrava nessa casa, mas hoje nos entramos! Há 50 anos atrás a gente não tinha a felicidade de conduzir o nosso Movimento, e hoje nós estamos conduzindo! Há 50 anos atrás a gente não conseguia bancar o nosso Movimento, mas nós estamos bancando! Parabéns para as Regiões, porque vocês estão bancando essa festa!
Queria dividir a minha alegria com vocês agradecendo a minha família e agradecendo a minha equipe do CIR, que incansavelmente esteve por aqui, na pessoa da Maria Bethânia. Organizando, junto com o coordenador Valério, as coordenadoras de recepção e a professora Marisa. Eles trabalharam incansavelmente para poder fazer dessa casa, a nossa casa!
Essa Terra é nossa! Se alguém disse que um dia ia nos vencer se enganou! Hoje nós estamos aqui, aos milhões para dar o recado ao Brasil e para o mundo: nós existimos! Nunca mais esse povo aqui vai ser dizimado! Porque nós temos força para lutar! Porque nós temos garra para dizer que nós estamos aqui!
Somos o povo indígena Macuxi, Wapichana, Ingarikó, Patamona, Sapará, Taurepang, Wai-Wai, Yanomami, Yekuana e Pirititi. Todos esses povos aqui vão proteger esse território!
Muito obrigado lideranças! Eu fico muito emocionado porque eu sinto uma energia positiva aqui! Esperamos que esses dias celebrem o início de uma festa. Porque, nós vamos mudar novamente esse país, para ele ser chamado de novo país de democracia! É o que nós vamos falar daqui para frente!
Muito obrigado aos coordenadores e aos que foram coordenadores dessa Organização! Vocês nos ensinaram a ser guerreiros! Guerreiros para defender, para proteger a nossa casa e aqui estamos nós!
Quando trouxemos este feixe de varas, que vocês vão falar depois, é para simbolizar a união! Eu quero dizer para você jovens, crianças e mulheres; pajés, rezadores, Gpvit; agentes ambientais e territoriais; brigadistas e operadores de direito e a todos àqueles que estão fazendo parte do nosso Movimento: sejam muito bem-vindos nessa casa!
Seu Valério, com a sua permissão, eu quero agradecer de verdade e de coração esses momentos que nós vamos passar aqui! Nós viemos para fazer desses dias, dias felizes! Para falar de garra e de conquistas; de resistência e de vitória! Não foi para falar de derrota. Porque é assim que nós estamos caminhando hoje! Então muito obrigado pela presença dos senhores!
Vamos festejar! Vamos comemorar! Vamos comer churrasco e mostrar para o Brasil e para aqueles que estão falando da gente, que a gente não está passando fome aqui! Nessa casa nós temos carne, farinha, damurida! Temos churrasco para dar, para todos aqueles que quiserem estar aqui conosco para prestigiar! Estão convidados!
Muito obrigado! Que Deus nos abençoe! A luta continua: unidos venceremos! Povo unido: jamais será vencido!